O nemátodo - verme microscópico do grupo das lombrigas considerado uma grave ameaça aos povoamentos de pinheiro -, entrou em Portugal em 1999, tendo dizimado, desde então, extensas áreas de pinhal. Ao contrário do que se temia, o pinheiro bravo conseguiu resistir à praga em algumas zonas do país, graças à conjugação de fatores, humanos e naturais, o que permitiu a sobrevivência de importantes manchas de pinheiro bravo ('Pinus pinaster'), com destaque para a região Centro, onde, 25 anos depois, é possível encontrar alguns pinhais de boa saúde.
Na altura, já se notava que outras resinosas, como o pinheiro-de-casquinha ('Pinus sylvestris') e o pinheiro-manso ('Pinus pinea') “não eram afetados” pela doença.
“Detetámos alguns núcleos na Castanheira”, recordou, para explicar que o problema incidia sobretudo nos povoamentos de pinheiro bravo mais antigos, de monocultura ou devastados parcialmente por incêndios.
Nalguns casos, “havia uma vitalidade logo ao lado, com uma reação muito positiva” das árvores jovens, segundo José Pais, que nos últimos anos tem vindo a especializar-se em atividades associadas à floresta, como os passeios micológicos e a gastronomia silvestre.
“A praga continua a afetar os núcleos mais fragilizados, mas há uma capacidade da natureza de criar equilíbrios que nos estão sempre a surpreender”, referiu, convicto de que “já passou a debilidade dos primeiros anos”.
Na natureza, salientou, “funciona tudo num harmónio muito interessante”, com árvores, arbustos, vegetação rasteira e fungos em simbiose.
Na sua opinião, os cogumelos “são auxiliares fantásticos para situações de aflição” que atingem os espaços naturais.
Aos incêndios e perda de biodiversidade, juntaram-se as alterações climáticas, que “estão a afetar muito” os ecossistemas e equilíbrios ambientais, lamentou.
“Apesar das nossas tropelias, há bons exemplares de pinheiro-bravo e ecossistemas ainda com a espécie, com algum sub-bosque e fungos”, enalteceu José Pais, que gere atualmente o Parque de Campismo de Pedrógão Grande.
Também no concelho da Lousã, distrito de Coimbra, “houve uma grande mancha de pinheiro-bravo que acabou por secar” nos baldios da Boavista e do Braçal.
“Uma área de 30% do nosso pinhal foi bastante afetada”, o que abriu caminho à propagação de acácias e outras espécies invasoras, “prejudicial à paisagem e ao ecossistema”, revelou à Lusa o presidente do conselho diretivo dos Baldios de Serpins, Jorge Baeta.
Nos 1.200 hectares de baldios da freguesia, “os prejuízos são dificilmente contabilizáveis, mas o preço da madeira atacada pela decresceu imenso”, acentuou.
“No Braçal, muito atacado, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) fez uma reflorestação com pinheiro-manso e sobreiro. Foi um trabalho relativamente bem feito, mas insuficiente”, segundo Jorge Baeta.
Entretanto, sublinhou, “o pico do nemátodo está de certa forma dissipado”, não significando isso “que a praga já não exista”.
“O nemátodo matou muitas árvores e houve aqui algum corte raso que se calhar não se justificava”, lamentou, por sua vez, António José Ferreira, um comparte muito ativo na defesa dos Baldios de Serpins.
O da Boavista está “ainda bastante arborizado com pinheiro-bravo, houve muitas árvores que sobreviveram e mostram saúde”, declarou.
Nos Baldios de Vila Nova, uma área superior a 600 hectares, no concelho de Miranda do Corvo, “toda a situação está controlada” ao nível de pragas como o nemátodo e o escolitídeo, afirmou à Lusa, a técnica Susana Cortez.
Após os incêndios de 2017, que não chegaram a entrar nas áreas comunitárias de Vila Nova, a zona foi "atacada pelo escolitídeo, que leva também à morte do pinheiro, e foi necessário fazer outra intervenção muito grande", disse.
A engenheira florestal admitiu que se trata de “uma luta quase inglória” contra “pragas que facilmente se disseminam”. No caso do nemátodo, chegou à Serra da Lousã em 2008. “A partir daí, foi o caos, com o valor da madeira a cair a pique”, concluiu.
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